A poesia de Manoel de Barros no limiar dos intertextos: de Poemas concebidos sem pecado a Escritos em verbal de ave / The poetry s’Manoel de Barros on the threshold of intertexts: Poemas concebidos sem pecado a Escritos em verbal de ave
Resumo
RESUMO:
Este artigo tem como foco um exame da leitura de poesia pelo viés do intertexto absorvido na poesia de Manoel de Barros, fruto de uma longa experiência com sua poética em pesquisa de mestrado e doutorado (2007-2014). Considera-se a poesia de Barros como um projeto de releituras de si e da palavra intratextual, intertextual, recorrente na escrita e no diálogo com a experiência e consciência de leitura da tradição da poesia desde a poesia grega à poesia moderna brasileira e portuguesa, da crítica, da pintura, da música e de um conjunto de vivências que vão além da linguagem, uma vez que a palavra em Barros não pode fugir do ideal da desconstrução, da ruptura, da transcendência da palavra, e do adensamento de significados que vão além do não-dito na correlação com o intertexto. Julia Kristeva (1979) concebeu a epígrafe como uma rede paragramática do intertexto. Entende-se por paragramatismo a absorção de uma multiplicidade de vozes textuais que não necessariamente deva repetir o mesmo significado. Cada voz é reatualizada em cada leitura e recepção. Ler Manoel de Barros significa ler as entrelinhas do verso intertextual chegando ao efeito estético da katharsis. Este efeito pode ser compreendido a partir do prazer do texto proposto por Roland Barthes (1987). A recepção de convergência emana da relação de prazer, corporificando uma coabitação das linguagens. Sob esse prisma, a leitura da Poesia completa que inclui a intratextualidade de Poemas concebidos sem pecados a Menino do mato (2010) teve como embasamento obras dos autores, a saber: Gérard Genette (1982-1987), Julia Kristeva (1974), Hans Robert Jaus (1979), Umberto Eco (2002), Fátima Outerinho (1991), Michael Hamburguer (2007), Dominique Combe (1999), Alfredo Bosi (1983), Octavio Paz (1994) e João Alexandre Barbosa (2005).
PALAVRAS-CHAVE: Manoel de Barros. Poesia. Intertexto. Paratexto.
ABSTRACT:
This paper focuses on an intertextual examination of the poetry Manoel de Barros’s, the fruit of a long experience with his poetics in master's and doctoral research (2007-2014). Barros's poetry is considered as a project of re-reading of himself and of the intratextual, intertextual word, recurrent in writing and in dialogue with the experience and reading conscience of the poetry tradition from Greek poetry to modern Brazilian and Portuguese poetry, from criticism, painting, music and a set of experiences that go beyond language, since the word in Barros can not escape from the ideal of deconstruction, rupture, transcendence of the word, and the densification of meanings that go beyond of the unsaid in the correlation of the intertext. Julia Kristeva (1979) conceived the epigraph as a paragrammatic network of the intertext. It is understood by paragramatismo the absorption of a multiplicity of textual voices that does not necessarily have to repeat the same meaning. Each voice is refreshed at each reading and reception. Reading Manoel de Barros means to read between the lines of the intertextual verse, arriving at the aesthetic effect of katharsis. This effect can be understood from the pleasure of the text proposed by Roland Barthes (1987). The reception of convergence emanates from the relation of pleasure, embodying a cohabitation of the languages. In this perspective, the reading of the complete Poetry that includes the intratextuality of Poems conceived without sin the Boy of the bush (2010) was based on works of the authors, namely: Gérard Genette (1982-1987), Julia Kristeva (1974), Hans Robert Jaus (1979), Umberto Eco (2002), Fatima Outerinho (1991), Michael Hamburguer (2007), Dominique Combe (1999), Alfredo Bosi (1983), Octavio Paz (1994) and João Alexandre Barbosa (2005).
KEYWORDS:Manoel de Barros.Poetry. Intertext. Paratext.
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PDF - P. 64-80Referências
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